PHM: “Um Rancho com critérios voltados para as tradições do povo”

O diretor do Rancho Pedro Homem de Mello, Justiniano Macedo, recebe homenagem do diretor do Rancho Folclórico do Arouca Barra Clube
O diretor do Rancho Pedro Homem de Mello, Justiniano Macedo, recebe homenagem do diretor do Rancho Folclórico do Arouca Barra Clube, Claudio Ribeiro. Confira Galeria>>

Por Vanessa Sene
Foi numa tarde de domingo, em 20 de novembro, que o Rancho Pedro Homem de Mello fez uma especial apresentação para comemorar os 28 anos de fundação. Neste dia, eles receberam como convidado o Rancho Folclórico do Arouca Barra Clube, e muitos amigos que encheram o salão para provar a boa comida típica e assistir muito folclore português.
O Rancho Folclórico Pedro Homem de Mello comemorou este aniversário na nova casa, o Clube da Vila Maria, fundado em 1923. “Nós tínhamos que procurar uma nova opção por ter dificuldades na igreja que estávamos, apesar de todo bom acolhimento que tínhamos” descreveu o presidente que procurava um espaço maior, tipo de um clube, e apesar de outras opções escolheu a Vila Maria como a nova morada.
O rancho, que arca com um aluguel mensal, utiliza a estrutura de todo o espaço desde a mudança que aconteceu em fevereiro deste ano.
Nesta entrevista ao Mundo Lusíada, Justiniano Macedo destacou a “boa juventude” num grupo coeso e grande, “por isso é Pedrão”. “Na minha maneira de olhar o folclore, acho um rancho com critérios voltados para aquilo que era as tradições do povo, respeitando as danças, o trajar, a maneira de se comportar. Tudo isso faz parte de um rancho quando está trajado, ele está representando os antepassados, uma época”.
Nem batom, esmalte ou relógios de pulso, os componentes usam apenas os apetrechos que fazem parte da época enquanto estiverem como folcloristas. “Tem gente que tem piercing, tatuagem, mas eles cobrem. Claro que nós vivemos no século 21 então não tem como brecar os jovens de viverem a época, mas também não impedem que eles se sintam numa época em que as mulheres eram mais recatadas, há coisas criteriosas quando se representa o folclore”.
Segundo o presidente, os jovens componentes entendem essas exigências. A própria ensaiadora e filha do presidente, Vanessa Macedo, aos 24 anos relembra os componentes como é que tem que ser. “Nós não impomos, nós mostramos como as coisas eram feitas, eles mesmos tem consciência que tem que seguir e respeitar a tradição”. Justiniano afirma que assim não pretende criticar ninguém, respeita a maneira dos outros grupos folclóricos, mas “quero que os outros entendam que é a nossa maneira de ver o folclore”.
O coirmão Rancho Folclórico Arouca Barra Clube, que no próximo ano completa 50 anos, será seguido pelo Pedrão. “Vamos chegar lá com certeza. O PHM tem nesses 28 anos uma história rica para contar, já viajou cinco vezes a Portugal, dançamos na Espanha também. Levar 40 pessoas a Portugal, por cinco vezes, são 200 pessoas. Tem jovens que nunca tinham ido a Portugal e nunca mais foram, que tiveram oportunidade com o Rancho Folclórico PHM” diz Justiniano relatando que na viagem os jovens se integram com a comunidade em Portugal, convivem com outros ranchos folclóricos, como o Rancho Etnográfico da Areosa, que abriu sua sede para hospedar os irmãos do Brasil.
“É um rancho exemplar, acho que hoje em Portugal não tem outro rancho dançando igual o Areosa. Quem vê o rancho da Areosa dançar fica apaixonado. E nós ficamos lá mais de 30 dias hospedados na sede da Areosa, outros ranchos vieram confraternizar conosco, isso é lindo, é algo gostoso de se viver”.
Ter uma sede já passou pela cabeça da diretoria, mas este sonho não contribui com a história de outros abnegados, como acontece atualmente nesta parceria com o atual Clube da Vila Maria. “Não pagamos nada para ninguém e não ganhamos nada. O PHM vive das pessoas que gostam de estar aqui”.
Incluindo os seus componentes, que na véspera permaneceram até duas da manhã na sede do clube adiantando o cardápio, a decoração e ensaiando para a festa. “Eu já falei para eles, aceito todas as ideias desde que eles metam a mão na massa para fazer, porque ter ideia para eu trabalhar, não” responde Justiniano em meio a risadas. “Eles gostam de fazer, são muito unidos”.
Para o futuro, existe o projeto de um novo CD com músicas acompanhando seu atual repertório do Minho Interior. “É um folclore diferente, um folclore da montanha, a maneira de trajar também é diferente. Já fomos ao Rio com esses trajes, o pessoal ficou entusiasmado porque foi o primeiro rancho no Brasil a fazer uma modificação dessas. O Minho tem muitas caras, estamos dando mais uma face ao Minho”.
Uma região rica para o folclore, mas segundo Justiniano, a geografia do Minho não tem nada a ver com a dança folclórica. “Quem divide o folclore na verdade são as montanhas. Se estou deste lado da montanha não sei o que o outro lado da montanha está cantando. Mas se estou deste lado do rio, o outro lado do rio me escuta cantar. Então as coisas são iguais de um lado e outro do rio, mas a montanha nos separa. Folclore tem dessas coisas”.
O PHM, que já dançou de norte a sul, agora é regionalizado para respeitar as características do folclore. “Para evitarmos dançar tipo um corridinho com traje minhoto, porque são coisas diferentes” relata. Mas nada impede que eles não dancem todo o Portugal, como aconteceu este ano durante uma apresentação na Associação Portuguesa de Desportos, em que foi apresentada uma recolha de tudo o que o rancho já fez, só para recordar. “Quando o rancho começou, a minha filha Priscila entrou no palco com cinco meses, a Vanessa, hoje ensaiadora, não era nascida”.
Há 28 anos, Justiniano e sua família leva o PHM com muito amor, envolvendo tantas outras famílias. “Eu sou um causador, sou um dos fundadores junto com Nelson Claro, Ermindo Loureiro, Antonio Padeiro, Joaquim Manuel Santos. Fizemos uma primeira reunião, acho que éramos em sete, saímos do restaurante 2h da manhã, ligamos para Portugal e já encomendamos os trajes, assim começou o Rancho Pedro Homem de Mello”.
Justiniano nunca mais saiu e desde 1999 preside o grupo. “Quando dividimos as coisas o fardo fica mais leve para ser carregado” diz Justiniano, sugerindo uma alternância na presidência, esperando que finalmente nas próximas eleições entre novos nomes. “Eu confio neles, não podemos desacreditar. Depois que as pessoas assumirem elas respondem por si. Como responsável, tem que estar no respaldo de tudo. Mas uma hora tem que mudar, o Justiniano não será eterno neste cargo”.
Segundo ele, o prazer de estar no palco é o que faz os jovens ficarem. “Quando se sobe no palco, sente o calor das palmas, tudo isso ajuda e faz com que o componente volte, faz o jovem permanecer e ficar. Ninguém troca uma balada por um vira assim, todos tem um motivo. E nem tudo agrada, mas no final tudo acaba bem. Procuramos sempre fazer o melhor, em respeito ao público” finalizou.

Convidados do Arouca Barra Clube
Claudio Ribeiro é o diretor do grupo do Rio que pela primeira vez participou da festa de aniversário do Pedrão. Eles estiveram em São Paulo com 41 componentes, apresentando folclore típico da Vila de Arouca. “O departamento de folclore do Arouca Barra Clube tem alojamentos para 50 componentes, temos amplo salão e temos objetivo muito grande que é o intercâmbio Brasil/Portugal, e Rio com outros estados”.
Logo_Galeria-de-ImagensEm junho, o grupo do Arouca Barra Clube vai comemorar 50 anos de fundação. “Há 50 anos que desenvolvemos a cultura portuguesa no Rio de Janeiro. Sem dúvida, o Arouca Barra atende todas as nossas necessidades, porque é um grande prazer ter jovens trabalhando pela cultura luso-brasileira, isso para nós é uma honra” diz Ribeiro descrevendo o folclore como uma “teia de aranha, quanto mais se envolve mais você se prende e não consegue sair”.

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