Coimbra lidera estudo “fuga de cérebros” sobre alta emigração de jovens qualificados

Mundo Lusíada
Com agencias

Torre da Universidade de Coimbra. Foto Divulgação: ©UC|Sérgio Brito
Torre da Universidade de Coimbra. Foto Divulgação: ©UC|Sérgio Brito

São cada vez mais os jovens qualificados que saem de Portugal para tentar a sorte no estrangeiro. Em 2008, surgiam as primeiras notícias da emigração qualificada, que coincidiram com a crise econômica vivida no país.

O investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), Rui Gomes, já tinha trabalhado com o fenômeno do “Brain Drain” – ou o escoar dos cérebros – mas com a saída do próprio filho para Londres, no Reino Unido, considerou que “era preciso deixar uma memória científica bem informada e detalhada sobre o fenômeno e sobre as experiências dos emigrantes qualificados que estavam a sair”.

Depois de mais de mil questionários e cerca de 55 entrevistas biográficas, a “Fuga dos Cérebros” agora mostrou publicamente os resultados, numa conferência internacional, em 18 de setembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O projeto de investigação “Êxodo de competências e mobilidade académica de Portugal para a Europa”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, é realizado por uma equipe multidisciplinar, liderada por Rui Gomes, e junta a Universidade de Coimbra (UC), do Porto e de Lisboa, bem como quatro centros de investigação.

Rui Gomes conta que, no estudo, estão presentes as áreas da “sociologia, educação e economia”. Mas o que o motivou foi, não apenas a “curiosidade científica mas também uma motivação muito vinculada à amargura social as pessoas que estavam a sair sentiam”, explica o docente e investigador da UC.

Os investigadores estudaram quatro grandes grupos e as entrevistas foram feitas “em profundidade a emigrantes qualificados com características diferentes”. “Desde profissionais qualificados que foram trabalhar em áreas qualificadas e bem renumerados”, Rui Gomes conta que foram ainda entrevistados emigrantes que “estando desempregados em Portugal e obtendo emprego no país de acolhimento – mesmo com rendimento superior – foram trabalhar em áreas do mercado abaixo das suas qualificações”.

Os emigrantes “transitórios ou pendulares” e os que “tomam como impulso um programa de mobilidade acadêmica” feito anteriormente completam os “quatro grandes casos” estudados e captados “quer nas entrevistas quer nos questionários”, completa o responsável.

As consequências da “Fuga de Cérebros” de Portugal para a Europa – e para o mundo – são pesadas. Rui Gomes refere “desde logo, uma consequência econômica direta, que diz respeito à não utilização do investimento do país e das famílias”.

“Acrescentamos as consequências demográficas”, continua o docente da UC. “A acrescentar ao envelhecimento do país, temos a questão demográfica porque estes emigrantes são jovens”. O responsável conta que “a esmagadora maioria” da amostra do estudo concentrou-se “justamente entre os 24 e os 39 anos”.

Existe ainda uma consequência nas expectativas criadas nas famílias e nos potenciais candidatos ao Ensino Superior “por verificarem que o diploma perdeu o valor no mercado de trabalho interno”, lamenta Rui Gomes. Uma perda que “é intensificada pela ideia de que as pessoas têm de sair do país para verem realizados os seus objetivos de realização profissional e de motivação humana que os levou a estudar”.

Em declarações à Lusa, o coordenador Rui Gomes explicou que o conceito de “êxodo” é muito próximo de uma decisão definitiva em que existe uma perda para o país emissor e um ganho do lado do país recetor, por oposição à noção de “diáspora” que significa trocas tendencialmente iguais entre os países.

Por outro lado a emigração está também associada a um aumento dos rendimentos, uma vez que mais de 70% dos inquiridos declararam que recebiam m Portugal um salário inferior a 1.000 euros, enquanto mais de metade aufere um montante superior a 2.000 euros no país de destino.

Obra
O livro “Fuga de cérebros: retratos da emigração portuguesa qualificada”, editado pela Bertrand, junta 20 retratos, dos 55 que foram entrevistados para o projeto. O objetivo era fazer um retrato de cada um dos “cérebros”, “desde a sua origem social, o seu percurso acadêmico e profissional, às influências díspares que estiveram presentes na decisão de emigrar”, desvenda Rui Gomes.

A obra vai ser lançada durante a conferência e vai estar nas livrarias a partir de 2 de outubro. Simultaneamente, a Imprensa da UC vai também lançar um livro eletrônico, mais longo, com os restantes retratos sociológicos. “Entre a Periferia e o Centro, trajetos de emigrantes portugueses qualificados” vai estar acessível ao público através da Imprensa da UC, revela o responsável.

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