Fado no Brasil: Maria José Villar

Por Thais Matarazzo

Maria José dos Anjos Piedade nasceu no Porto, em 29 de dezembro de 1929. Sempre quis cantar e a família opunha-se. Mesmo assim, em 1949, inscreveu-se no concurso da Rainha das Cantadeiras de Portugal, no qual obteve boa classificação, chegando as finais. Justamente nesta ocasião, Maria José veio para o Brasil e deixou o certame para trás.
Foi morar no Rio de Janeiro. Em 1950, o Brasil viu nascer uma nova fadista, Maria José passou a cantar no programa de Silveira Lima, na Rádio Tupi. A partir de então atuou em todas as emissoras de rádio e televisão cariocas, e algumas de São Paulo. Trabalhou também em quase todos os restaurantes típicos das duas cidades.
A revista Padrão, de janeiro de 1955, comentava a promoção da fadista. “Uma cantadeira que está se impondo, Maria José – No Brasil tem se feito ouvir através da Rádio Vera Cruz, no programa Portugal em Revista, transmitido do palco do Teatro Carlos Gomes, em festas características portuguesas e com exclusividade na ‘Casa Portuguesa’ onde é aplaudida todas as noites. Numa temporada em S.Paulo, Maria José já fez arrebatar o povo paulista que acorria à ‘Adega do Douro’ para apreciar essa castiça cantadeira”.
Por volta de 1957 ou 58, casou-se com o violonista Leonel Villar. Adotou o sobrenome do marido, passando a ser conhecida como Maria José Villar.
Conheceu o esposo através do Fado, Leonel tocava violão e acompanhava todos os fadistas renomados. Seu verdadeiro nome era Leonel de Ávila Villar, nascido aos 16 de outubro de 1929, no Rio de Janeiro. Veio a falecer na mesma cidade, aos 50 anos, em 1979.
O único filho do casal, Eduardo Antônio dos Anjos Villar, nasceu em 6 de maio de 1959. Como os pais, é músico e conhecido como Belloba.
Em 1959, Maria José teve uma das suas grandes emoções como artista: cantar na Churrascaria Gaúcha, na Cidade Maravilhosa, para o Presidente da República, Juscelino Kubitschek.
Três belas portuguesas, que se fizeram cantoras no Brasil, sem nunca terem se apresentado em Portugal, receberam convite do Centro de Turismo de Portugal para uma viagem a “terrinha”, em abril de 1967. São elas, Maria Tereza Quintas, Maria José Villar e Adélia Pedrosa. Foram acompanhadas nessa viagem pelo consagrado fadista e compositor Joaquim Pimentel.
Em 1968, Maria José e Leonel separam-se. Um ano depois, a fadista é contratada para uma temporada no restaurante Magriço, à Rua Augusta, nº. 1388, na capital bandeirante. Sobre essa atuação, o cronista Monterri comentou na sua coluna Roteiro Noturno, do Diário da Noite, na edição de 3/5/1969. “Maria José Villar, autêntica e valorosa ‘estrela’ da música portuguesa, vem sendo alvo todas as noites, dos aplausos entusiásticos e carinhosos, da seleta plateia que vai jantar no restaurante Magriço, o mais novo restaurante lusitano da noite paulistana”.
Maria José Villar é considerada por seus colegas como uma fadista castiça de grande mérito. Era queridíssima em São Paulo. Sua temporada no Magriço estendeu-se por meses. Em 17/11/1969, Monterri explicou. “Tem sua presença e atuação no restaurante Magriço assegurada todas as noites. Intérprete excelente do melhor musical de além-mar, Maria José Villar vê suas apresentações nessa casa, serem alvo de entusiásticos e calorosos aplausos, por parte de uma plateia que realmente conhece e sabe apreciar o fino e o mais tradicional da arte do canto português”.
Durante os anos de 1970 e 71, vamos encontrá-la trabalhando nos restaurantes Adega Lisboa Antiga e Abril em Portugal.
Gravou vários discos, com destaque para De degrau em degrau, onde interpreta boleros acompanhada pela orquestra de Pereira Santos.
Maria José Villar faleceu aos 65 anos, no Rio de Janeiro, em 1994.

 
Por Thais Matarazzo
Trecho do livro “O Fado nas Noites Paulistanas…” (2015), de Thais Matarazzo, Editora Matarazzo (São Paulo-SP). Assina a Coluna Fado no Brasil no Mundo Lusíada Online.

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