Lava Jato retorna ao PT para concluir seu objetivo

No início deste mês de junho, os depoimentos do ex-diretor da Transpetro e ex-senador do PSDB Sérgio Machado chacoalharam a esperada tranquilidade dos governistas interinos em sua gestão. As conversas, gravadas de forma oculta por ele e veiculadas pela imprensa, tiveram consequências diretas contra o atual governo e mexeram com a opinião pública. Michel Temer, o interino, extremamente conservador, agradou o mercado ao procurar desde o primeiro momento desmontar as bases de Dilma, mas, passou a ter cada vez mais seu nome e de seus recém empossados ministros envolvidos com corrupção, o objetivo de combate central da Operação Lava Jato, que tornou os petistas grandes vilões nacionais nos últimos dois anos. E agora, as investigações vão prosseguir séria e indiscriminadamente ou apenas serviram para abater a presidenta e os petistas revelando marcadamente o caráter ideológico da ação?

Figuras importantes do PMDB como os senadores Jucá e Renan, além do ex-presidente da República, Sarney, foram envolvidos de forma direta e transparente, conforme os áudios de Sérgio Machado revelaram. De acordo com trechos dos depoimentos, um esquema de pagamentos de propina a peemedebistas funcionou nos 12 anos em que trabalhou na Transpetro e ele diz ter como documentar os pagamentos feitos. Algo em torno de 70 milhões de reais foi o valor em propinas que Renan, Jucá e Sarney receberam por meio dele. Além disso, com o avanço da Operação Lava Jato, cada vez mais fica difícil de evitar as denúncias envolvendo também figuras do PSDB e outros partidos que fizeram intensas críticas contra a corrupção petista. A propósito, o empresário Ricardo Pernambuco Jr., Carioca Engenharia, documentou em abril R$ 52 milhões em 36 parcelas para Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara, uma das vedetes dos ‘pró-impedimento’. Ele responde por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Será réu em duas ações penais que tramitam na Corte, vindas da Operação Lava Jato. Sua mulher também é ré. Cunha promete não renunciar ao seu cargo. Este conjunto é uma verdadeira bomba sobre os defensores do impeachment que se afogam, assim, num vagalhão de hipocrisia.

Curiosamente, assim que se evidenciava a condição inevitável do afastamento de Dilma, já se passou a cogitar o encerramento da Operação Lava Jato em Brasília. O próprio juiz Sérgio Moro, grande líder do processo e espécie de ‘herói nacional’ contra os assaltantes do patrimônio público, em meados de abril comentou que gostaria de realizar o encerramento da Lava Jato até o final de 2016. Então, daí surgiu uma incômoda contradição: a corrupção cada vez mais se mostra ampliada, pedindo que as investigações sejam, sim, intensificadas e não concluídas. Pelas listas de empresários da Odebrecht, OAS, os áudios de Sérgio Machado, entre outros elementos, há muito que se fazer.

Segundo ouve-se nos áudios, com base nas declarações de Jucá a Machado, a queda de Dilma permitiria um ‘pacto’ para ‘estancar a sangria’ causada pela Lava Jato. E esse acerto incluiria o Supremo. “Tem que ter impeachment”, ambos concordam. Novas delações “não deixariam pedra sobre pedra”. Temer é “a solução mais fácil”, apesar de Renan Calheiros ser contra porque “Michel é Cunha”; “daí parava tudo. Pronto”, sugeriu Jucá sobre as investigações. Segundo o Senador Jucá, a única saída era sacar Dilma, conforme conversas que teve com gente do STF, pois, “a imprensa, os caras, querem tirar ela e isso não vai parar nunca”. Querem pegar todos os políticos, “acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…”, diz o aflito Jucá a Machado. Inclusive, porque “a ficha caiu para todo mundo, inclusive o PSDB”, afirmou ele. “Está todo mundo na bandeja para ser comido”, referindo-se a Serra, Aloysio, Jereissati e Aécio (http://oglobo.globo.com/brasil/em-gravacoes-juca-fala-em-pacto-para-deter-lava-jato-diz-jornal-19357617). Uma pureza de civismo comovente.

O governo Temer deveria, então, sugerir austeridade e probidade. Contudo, não se saiu bem. Nos primeiros 15 dias, por exemplo, foi criticado pela inexistência de notáveis, pela falta de diversidade em seu gabinete e sete ministros estavam sendo investigados, denunciados na lista da Odebrecht, sem contar questionamentos da ONU e OEA. Esta semana, ministros voltaram a falar no fim da Lava Jato. E com eles, a plutocracia. Empresários e investidores passaram a, discretamente, defender que a operação precisa mesmo sinalizar um fim, para ajudar a economia brasileira voltar a funcionar. Apesar da queda de três ministros e de outros aparecendo em listas de corrupção, assim como acusações contra o próprio Temer (http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/06/17/financial-times-temer-e-acusado-de-suborno-e-corrupcao/?from_rss=pais), o empresariado tem uma postura condescendente, tendo em vista seus projetos econômicos. E, claro, também ajudando a evitar mais constrangimentos públicos devido ao envolvimento ilícito entre políticos e empreendedores. Simplesmente uma vergonha. Imoralidade escancarada.

Nesta quarta feira, subitamente, a Operação Lava Jato retornou seu foco aos petistas, fazendo contra seus membros e sede, busca, apreensão e prisão do ex-ministro, Paulo Bernardo. Rapidez e determinação como antes. Parece que a proximidade do julgamento final de Dilma, que deve acontecer no início de Agosto, preocupa aqueles que tomaram o poder e temem o retrocesso da ocasião. Dilma tem 22 senadores a seu favor e precisa de mais 4 para se livrar do impeachment, que fica difícil não ser qualificado como golpe. Nas ruas, os movimentos sociais vêm se manifestando contra as ações de Temer que, com um mês, não conseguiu fazer uma aparição pública. Há ideias de convocação de um plebiscito sobre novas eleições, caso Dilma volte, para que o povo decida o futuro político da nação em forma de ‘pacificação’. Os ânimos prometem se acirrar e o resultado final ainda é uma incógnita.  São Paulo, 24 de junho de 2016; dia de São João.

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo

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