Grande vitória brasileira na luta contra a Fome

Esta semana, durante um encontro da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, foram divulgados dois estudos sobre segurança alimentar e nutricional. São relatórios que se completam e discutem a fome no planeta. São eles, “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo” e “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil”. No geral, foi observado que ainda há muito que se percorrer nessa questão, mas, também grandes avanços foram notados, sendo que o Brasil é destaque positivo.

Do ponto de vista internacional, os estudos revelam que de cada nove pessoas no mundo, uma sofre de extrema desnutrição. Isto representa 805 milhões de seres humanos que possuem fome crônica. Mas, embora esse total seja assustador, ele mostra uma redução de 100 milhões em relação à última década e de 200 milhões em relação aos últimos 20 anos, ou seja, do início dos anos 1990 até aqui. Assim sendo, é possível notar que com esforço concentrado pode-se resolver a lamentável questão, ou seja, se cumprir o item relativo à fome e desnutrição do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, aquele projeto lançado pela ONU no ano 2000, objetivando a redução pela metade da proporção de pessoas subnutridas na Terra até 2015. Fica claro que 65 países em desenvolvimento conseguiram alcançar a meta determinada, no caminho para levar à erradicação da fome até 2015. Eles não podem, então, é estagnar.

A América Latina e o Caribe são um bom exemplo de progresso, enquanto que demonstraram as menores situações de avanço os países da África Subsaariana e da Ásia Ocidental.

Uma das mais fortes razões para as frustrações é o fato de se tratarem de áreas constantemente atingidas por catástrofes e conflitos, que geram instabilidade e resultam em ausência de políticas firmes voltadas para combate a situações de vulnerabilidade da população. No caso da África Subsaariana, especificamente, os dados são os mais precários do continente, pois, uma em cada quatro pessoas continua com fome crônica e desnutrição. Mas, não é o recordista: o maior número de pessoas com fome está no continente asiático: são 526 milhões de vítimas.

Na área latino-americana há, então, o que se comemorar com bons exemplos, como Bolívia e Equador que, na última década, apresentaram políticas de apoio às comunidades indígenas e às pessoas que residem em áreas rurais, com inclusão social de diversas formas. Nesta região, o ponto destoante é o Haiti, onde mais da metade da população sofre com problemas crônicos de desnutrição, agravados pelo terremoto que atingiu o país em 2010.

De todo modo, tanto para a FAO quanto para o Programa Alimentar Mundial, ambas ligadas à ONU, assim como para o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, “é possível ganhar a guerra contra a fome, desde que haja comprometimento da comunidade internacional para tanto”. E o Brasil foi um marco nesse sentido.

Devido aos programas que integram ações e promovem inclusão social, como o Fome Zero, o desempenho brasileiro é uma referência internacional, dado o trabalho conjunto envolvendo 18 ministérios em ações diversas. São políticas públicas, como investimentos na agricultura familiar e transferências de renda do Bolsa Família. Um conjunto de esforços. Assim, entre 2001 e 2012, a pobreza foi reduzida de 24,3% para 8,4% da população, o que representa 16 milhões de pessoas. A extrema pobreza, situação atribuída a quem vive com menos de US$ 1 ao dia, foi reduzida, no mesmo período, de 14% para 3,5% da população brasileira. A pesquisa da FAO mostra que, no período, a renda dos 20% mais pobres entre a população brasileira cresceu três vezes mais que a dos 20% mais ricos e a proporção de pessoas com desnutrição passou de 10,7%, em 2000, para 5,35%, em 2006. Isso porque os gastos com programas sociais cresceram 128% em 12 anos. Só com o programa de merenda escolar, o Brasil oferece hoje refeições a 43 milhões de alunos da rede pública. Isso significa alimentar mais do que toda a população da Argentina diariamente nas escolas e creches.

Sair do ‘Mapa da Fome no Mundo’ é, de fato, um marco histórico para o país. Merece ser comemorado, embora não se possa perder o foco da eliminação plena dessa chaga. Por isso, continuar a caminhada é preciso. Mas, o ânimo é bem outro e muito melhor, sem duvida alguma. São Paulo, 18 de setembro de 2014.

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

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