Presidente português homenageia fadistas e destaca “potencial econômico” do fado

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Mundo Lusíada
Com Lusa

Na noite de 27 de janeiro, os fadistas Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro e Ricardo Ribeiro, e o guitarrista e compositor de fado Mário Pacheco foram agraciados pelo Presidente português, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

O Presidente Cavaco Silva defendeu que o fado dá um “contributo inestimável” para a divulgação da cultura portuguesa e a “projeção de Portugal no exterior”, tendo “um potencial econômico de elevada relevância”. “O seu impacto positivo nas empresas ligadas ao audiovisual e à produção de espetáculos, e a criação de postos de trabalho, têm sido uma constante nesta trajetória de sucesso”, declarou Cavaco Silva.

O Presidente falou após a condecoração aos fadistas no Museu do Fado, em Lisboa, onde Cavaco Silva foi recebido pelo presidente da Câmara da capital, António Costa. Na cerimônia de entrega da Comenda, o Chefe de Estado afirmou que “a capacidade de renovação do fado é visível no aumento vertiginoso do número de discos editados e vendidos, de espetáculos produzidos e esgotados, de prêmios conquistados”. “Tudo isto representa um contributo inestimável para a divulgação da nossa cultura e para a projeção de Portugal no exterior”, sustentou.

O Presidente defendeu a importância de garantir que o reconhecimento do Fado como patrimônio imaterial da Humanidade pela Unesco (organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) “não se tratou apenas de um galardão simbólico, sem consequências visíveis”.

“É preciso continuar a trabalhar na promoção desta arte única, através da distinção dos seus intérpretes e criadores mais notáveis, para que o fado alcance o justo lugar a que tem direito no panorama da música universal”, considerou.

Cavaco Silva salientou que existe hoje em Portugal “uma geração de fadistas que trouxe para o fado uma alma nova, um timbre diferente” e que graças ao seu talento “conquistaram-se novos públicos e o fado adquiriu um lugar indiscutível na vida cultural do país”.

O Presidente disse querer homenagear, com estas condecorações, “um conjunto de intérpretes e criadores de excelência, que deram nos últimos anos um contributo excepcional para o enorme êxito que o fado tem conhecido”.

Cada um dos homenageados usou da palavra para agradecer a distinção, num curto discurso, com citações a esta “honra” em receber a homenagem e a “responsabilidade” em levar o nome e cultura de Portugal.

Vários fadistas receberam já esta distinção, nomeadamente Amália Rodrigues, Mariza e Mísia. Em 2013, Cavaco Silva condecorou, no Palácio de Belém, com a mesma comenda, os fadistas Argentina Santos e Vicente da Câmara e o guitarrista e compositor de fado Carlos Gonçalves.

Trajetória
Ana Moura, de 35 anos, natural de Santarém, cantou na banda Sexto Sentido. Descoberta pela fadista Maria da Fé, numa noite de fados, a criadora de “Búzios” começou a cantar regularmente no restaurante típico Senhor Vinho, em Lisboa, e fez os primeiros discos com o produtor e músico Jorge Fernando.

O seu mais recente álbum de estúdio, “Desfado”, foi considerado pelo Sunday Times, do Reino Unido, o melhor álbum de 2013 na área da “world music”. O jornal, que tinha já elogiado “Desfado”, afirmou que a voz de Ana Moura é “intoxicante”. O CD de “Desfado”, gravado ao vivo no Festival “Aqui mora o fado”, de 2013, valeu-lhe um Prêmio Amália. Entre outros músicos, a fadista gravou com Prince e cantou com a banda britãnica The Rollings Stones.

Carminho, de 30 anos, começou por cantar na casa de fados gerida pela mãe, a fadista Teresa Siqueira, a Taverna do Embuçado, em Alfama. Em 2005 ganhou o Prêmio Amália Revelação e, em 2012, recebeu o Prêmio Amália de Melhor Intérprete.

O primeiro álbum, “Fado”, foi editado em 2009, com produção do músico Diogo Clemente, que tinha já produzido álbuns de Raquel Tavares e Mariza.

Anteriormente, entre outras experiências de palco, Carminho, de seu nome completo, Carmo Rebelo de Andrade, gravou, em 2003, com o grupo Tertúlia de Fado Tradicional, radicado na Suíça, o CD “Saudades do Fado”.

Katia Guerreiro nasceu há 38 anos em Vanderbijlpark, na República Sul-Africana, viveu a infância nos Açores e licenciou-se em Medicina em Lisboa, onde fez parte da Tuna Médica e do grupo de teatro Miguel Torga. Anteriormente, tinha feito parte de um rancho folclórico açoriano. Na década de 1990, foi vocalista do grupo de música tradicional portuguesa Os Charruas.

Katia Guerreiro foi descoberta para o fado pelos músicos Paulo Parreira e José Mário Veiga. Este último ainda hoje a acompanha à viola. A fadista canta há cerca de 15 anos e, no seu palmarés, conta com um Prêmio Amália Melhor Intérprete.

Ricardo Ribeiro, de 33 anos, começou a cantar ainda jovem nas coletividades de recreio lisboetas e tem como maior referência o fadista Fernando Maurício, que acompanhou e com quem cantou amiúde.

O intérprete de “Destino marcado”, já distinguido com dois prêmios Amália – Revelação, em 2005, e Melhor Intérprete, em 2010 -, tem colaborado com músicos como Pedro Jóia, Rabih Abou-Khalil e Olga Cerpa, entre outros. O seu primeiro álbum de estúdio data de 2000, “No reino do fado”, tendo editado outros três, o mais recente intitulado “Largo da Memória”.

Mário Pacheco, de 60 anos, é filho do guitarrista Mário Pacheco que, entre outros nomes, acompanhou Hermínia Silva. Pacheco, que atualmente dirige o Clube de Fado, em Alfama, começou por tocar viola e, posteriormente, guitarra portuguesa, tendo já acompanhado nomes como Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Camané, Hermínia Silva, Max, Tristão da Silva, Mísia, entre outros. Como compositor, é autor de “Cavaleiro monge”, uma criação de Mariza.

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