Mundo Lusíada
Com Lusa
O presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), Raul Martins, disse que os recordes no Turismo impulsionam a economia, mas também originam preocupação com os impactos na habitação e infraestruturas.
“Mas se os sucessivos recordes do Turismo e da Hotelaria são, por um lado, importantes catalisadores do renascimento da economia nacional, por outro inspiram em muito justificados ecos de preocupação”, afirmou o dirigente, na abertura do 29.º congresso nacional da Hotelaria e Turismo, a decorrer até essa sexta-feira em Coimbra.
Na lista de preocupações, que devem “levar a preparar o futuro com realismo”, estão os impactos sobre habitação e transportes nas zonas urbanas mais procuradas, “começando a adivinhar-se algum descontentamento”.
Outras das preocupações enumeradas são os países e regiões mais competidores, com a “frescura da novidade e que se diferenciam por vários motivos” de Portugal, a “dificuldade na captação, retenção e formação de pessoas” na indústria da hospitalidade e os contratos coletivos de trabalho “obsoletos e que não respondem às modernas formas de organização e novas funções da hotelaria, porque estão agarrados a modelos do século XX e não ao presente e futuro”.
Na lista elencada por Raul Martins está ainda capacidade esgotada do aeroporto de Lisboa, as alterações climáticas, que “será mau também para o Turismo no médio prazo” por estar dependente dos recursos naturais e as perturbações política, econômica e social.
“Este é um momento decisivo, em que política, tecnologia, infraestruturas e recursos humanos se preparam para a epopeia do século XXI: estabelecer Portugal como um destino estável, maduro e sustentável, tanto para quem nos visita, como para quem aqui vive”, concluiu.
A mensagem enviada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defende uma maior aposta na valorização da entidade e da reputação do país em termos turísticos. “Com um otimismo realista”, segundo a mensagem escrita, o chefe do Estado quis ainda deixar uma “palavra de esperança num país bem melhor para visitar e viver”.
É falso
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, garantiu durante o mesmo evento “ser falso que haja turistas a mais” em Portugal e em Lisboa. “É falso que haja turistas a mais no país. É falso que haja turistas a mais em Lisboa. É falso que haja turistas a mais no centro de Lisboa”, sublinhou o chefe da diplomacia nacional, que recusa ainda que o Turismo “seja uma ameaça para que dimensão for”.
Santos Silva afirmou ainda a “obrigação de explorar” a margem de crescimento que o setor ainda tem, apesar dos recordes registados, até para que “continue e se expanda” o crescimento econômico e do emprego.
“É errado. É falso que haja turistas a mais e, do ponto de vista político, seria um disparate absoluto dizê-lo. É preciso ser franco”, afirmou ainda o ministro, acrescentando que tem usado “palavras duras quando é necessário”.
Em termos de Turismo, Portugal “já está na linha da frente, mas pode sê-lo ainda mais”, garantiu Santos Silva, argumentando que essa posição não tem por base apenas razões circunstanciais, como o “efeito de moda”, ser um “oásis de paz e segurança” em comparação com outros “ambientes extremamente turbulento” e a “estabilidade e resiliência social”.
As razões circunstanciais “estão muito longe de explicar o essencial da expansão recente e há uma razão estrutural, que é característica da nossa sociedade: a nossa maneira de ser”, defendeu o ministro, que elencou o traço nacional de “abertura ao outro e o cosmopolismo”.
A “capacidade histórica de relacionamento transversal” dos portugueses é expressa e potenciada pelo Turismo, afirmou o ministro, que recordou ainda a “riqueza de recursos naturais e culturais”, além dos recursos humanos de Portugal.
Mas o país deve ainda continuar a “oferecer novos produtos”, em termos de “vivências, experiências e relação de convivência”, indicou.
Neste congresso organizado pela Associação de Hotelaria de Portugal, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, garantiu, por seu lado, que se “está longíssimo da sobrecarga” de turistas e que situações pontuais “têm sido dirimidas”.
A antecipação, nomeadamente com o recente lançamento do programa de sustentabilidade de Turismo, foi recordada pela governante, que notou que “em vez de chorar, se está a agir na prevenção” e a solicitar também a ação da sociedade civil.