São Paulo começa mapeamento da população já infectada pelo novo coronavírus

Da Redação

Um projeto que visa determinar o porcentual da população paulistana que já foi infectada e desenvolveu anticorpos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) começou no dia 30 de abril em seis bairros de São Paulo. A fase de coleta começou na última segunda-feira.

A análise é crucial para a elaboração do plano de flexibilização da quarentena na cidade, onde se concentra a maioria dos casos de COVID-19 do país, segundo a agencia Fapesp.

A iniciativa envolve pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP), além de colaboradores do Grupo Fleury, da consultoria Ibope Inteligência e da ONG Instituto Semeia. Conta ainda com apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, criado pelo governo estadual.

“Nossa equipe fará, nesta etapa-piloto, a coleta domiciliar de dados, por meio de um questionário, e de amostras de sangue de 500 moradores, que serão levadas para análise em laboratório. Acreditamos que em no máximo seis dias após o início da coleta os primeiros resultados estejam disponíveis”, conta o médico Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury.

O material será analisado em uma unidade da rede Fleury localizada no bairro do Jabaquara, por um método conhecido como quimioluminescência – capaz de detectar tanto a presença de anticorpos IgM (imunoglobulina M), que é o primeiro tipo produzido pelo organismo e que pode ser detectado a partir do sétimo dia de infecção, como de anticorpos IgG (imunoglobulina G), produzidos mais tardiamente e considerados mais específicos e duradouros.

Foram incluídos na primeira fase de coleta os três bairros paulistanos com maior incidência cumulativa de infecção pelo novo coronavírus (número total de casos confirmados por 100 mil habitantes): Morumbi, Jardim Paulista e Bela Vista. E também os três bairros com maior incidência de óbitos por COVID-19 (número de mortes pela doença por 100 mil habitantes): Água Rasa, Belém e Pari.

“A seleção dos bairros foi feita com base nas estatísticas fornecidas pela Prefeitura. Em um futuro breve, pretendemos ampliar a área de coleta e também, oportunamente, voltar a esses seis bairros para medir a taxa de soroconversão [porcentual de moradores que no primeiro exame não tinham anticorpos e, no seguinte, passaram a ter]. Esses dados nos darão uma ideia de como a epidemia está evoluindo na cidade”, conta Granato.

O desenho da pesquisa seguiu a mesma técnica de amostragem probabilística usada nas pesquisas de opinião pública conduzidas pelo Ibope. O objetivo é obter uma amostragem representativa da população que reside nas regiões estudadas. Os resultados serão compartilhados com os gestores públicos.

Inquéritos seriados

Especialistas em epidemiologia estimam que as medidas de distanciamento social só poderão ser totalmente abandonadas em uma determinada região quando for atingida a chamada imunidade de rebanho, ou seja, quando aproximadamente 80% da população local já tiver sido infectada e apresentar anticorpos contra o novo coronavírus. Acredita-se que, nessa fase da epidemia, os casos graves seriam esporádicos e o sistema de saúde daria conta de atendê-los.

Na avaliação da médica e professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP Beatriz Tess, esse processo deverá ocorrer de forma bastante heterogênea na capital paulista, ou seja, alguns bairros atingirão a imunidade de rebanho mais rapidamente, enquanto outros ainda terão a maior parte de sua população suscetível ao vírus e poderão levar mais tempo para sair da quarentena, dependendo da estratégia adotada pelos gestores da saúde.

“Por esse motivo, é importante repetir a metodologia deste piloto na forma de inquéritos domiciliares seriados, a cada três ou quatro semanas, em diversas regiões da cidade e em outros municípios do Estado de São Paulo. Assim, a evolução da epidemia poderá ser monitorada por meio da taxa de soroprevalência [porcentual de moradores que já desenvolveram anticorpos]”, conta Tess à agencia Fapesp.

Estado de SP

O Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP) do Governo de São Paulo mostra que o percentual de isolamento social no Estado foi de 47% nesta quarta-feira, abaixo do que pedem os especialistas para diminuir a propagação da doença.

Segundo o governo de SP, um levantamento estatístico aponta avanço do coronavírus em 38 novas cidades paulistas a cada três dias. A evolução acelerada da contaminação no interior e no litoral ocorre ao mesmo tempo em que caiu a taxa de isolamento social em todas as regiões.

No total, 371 dos 645 municípios de São Paulo já possuem registros de circulação do vírus. Com o isolamento social em queda, a tendência estatística é de crescimento.

“Nós conseguimos verificar o crescimento da pandemia em mais municípios do estado de São Paulo de forma mais aguda. No início de maio, chegamos a 38 cidades a cada três dias. Se seguir por esse caminho, significa que todos os municípios terão contágio do vírus até o final de maio”, disse o Secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi.

Entre os dias 1 e 30 de abril, a Grande São Paulo passou de 2,7 mil para 24,3 mil casos, com crescimento de 770%. No mesmo período, no interior, os casos subiram de 129 para 4,3 mil, o que representa aumento de 3.302%. Nesta quinta, São Paulo chega a 39.928 casos em todo o estado, com 3.206 mortes.

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