Golpe: Sócrates diz que a direita brasileira usa a justiça para destituir a presidente Dilma

Mundo Lusíada

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (E) cumprimenta o ex-Primeiro-Ministro português José Sócrates, momentos antes de participar na conferência no âmbito do 25.º aniversário da presença da Portugal da Odebrecht em Portugal, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, 22 de outubro de 2013. JOÃO RELVAS/LUSA
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (E) cumprimenta o ex-Primeiro-Ministro português José Sócrates, momentos antes de participar na conferência no âmbito do 25.º aniversário da presença da Portugal da Odebrecht em Portugal, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, 22 de outubro de 2013. JOÃO RELVAS/LUSA

Em entrevista, o ex-Primeiro Ministro português José Sócrates declarou que o que está acontecendo atualmente no Brasil é um golpe político.

Em declarações ao jornal El País, o antigo primeiro-ministro português diz que a direita brasileira usa a justiça para destituir a presidente, e que “o impeachment de Dilma Rouseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas”.

Amigo pessoal de Lula, Sócrates que governou Portugal de 2005 a 2011, ficou preso em 2014 por nove meses e aguarda do Ministério Público acusação formal por supostos crimes de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.

“Até o comparecimento de Lula na apresentação de meu livro agora parece delituoso. Mas é curioso o paralelismo; como em meu caso, houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa; o que ocorre no Brasil é uma tentativa de destituição sem delito, sem fundamento constitucional” declarou ao jornal.

“O impeachment de Dilma Rouseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas. Não basta fazer acusações, é preciso fazer julgamento; condenar alguém sem direito a defesa acontece no Brasil e em Portugal, condenar sem julgar; destituição sem delito e sem fundamento. É um golpe político da direita, porque agora não mobilizam os militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018. É utilizar a Justiça para condicionar eleições”.

Sócrates também critica o processo e vazamentos no Brasil. “O juiz cometeu um delito; pedir perdão não o exime da culpa. A legitimidade de um juiz se baseia na imparcialidade, com esse gesto a perdeu. Já não o vejo como um juiz, mas como um ativista político”, aponta.

Na entrevista, o ex-Primeiro Ministro também critica o presidente eleito Marcelo Rebelo de Sousa. “Nunca me agradou seu interesse em querer contentar a todos. O presidente Marcelo sempre foi um personagem em busca de seu papel político. E o descobriu finalmente, o papel dos afetos, eixo de todo um novo programa político. Por outro lado, vejo o alvoroço diário de sua presidência como uma necessidade de querer sublimar a frustração por ter sido afastado da política durante 20 anos”.

Em Portugal, Sócrates também criticou a justiça do país depois de nove meses preso sem acusação. “Sem acusação e sem acesso ao sumário. Não há um caso similar em nenhum país europeu, em nenhuma democracia ocidental, de alguém que passe nove meses encarcerado sem acusação”.

Em Brasília, a Comissão Especial do Impeachment da Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) pela admissibilidade da abertura do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, com 38 votos a favor e 27 contrários. O parecer é agora encaminhado ao plenário da Câmara, onde será lido na sessão imediatamente após a votação. A leitura do relatório deve dia 12 em sessão ordinária da Casa. Posteriormente, a peça será publicada no Diário Oficial da Câmara dia 13.

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