Estudo alerta para risco de extinção do burro mirandês por abandono de criação

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Mundo Lusíada
Com Lusa

O burro mirandês pode extinguir-se nos próximos 50 anos, segundo as conclusões de uma investigação da Universidade de Vila Real sobre a demografia e reprodução da população da raça asinina de Miranda do Douro.

Miguel Quaresma, médico veterinário na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), debruçou-se, na sua tese de doutoramento, sobre a análise da demografia e reprodução da população do burro mirandês e, em comunicado divulgado em 29 de julho, explicou que o objetivo foi “prever a progressão da raça sob as atuais condições de maneio e identificar as variáveis vitais à sua sobrevivência”.

“Concluímos que a raça está atualmente em risco de extinção”, sublinhou o investigador, acrescentando que o estudo aponta, como fatores críticos de extinção, a baixa percentagem anual de fêmeas em reprodução, devido, “principalmente, ao abandono progressivo da criação destes animais”.

Estimam-se em “600 indivíduos a população reprodutiva, que está envelhecida, onde menos de metade das fêmeas de raça pura registadas pariram e algumas pariram uma única vez”, sustentou.

Segundo o estudo, outros fatores põem em causa a preservação da espécie, como a taxa de mortalidade em burrancos (crias) no primeiro mês de vida e que se verificou que é mais alta nos machos que nas fêmeas. Por outro lado, em idade avançada, as fêmeas têm um menor sucesso reprodutivo (a partir dos 15 anos de idade), o que contribui para os riscos de extinção.

“A proporção de partos/animais vivos é baixa, não sendo suficiente para a manutenção da raça”, alertou ainda o especialista, sublinhando, no entanto, que, caso aumente o número de crias, “uma pequena percentagem de fêmeas a reproduzir será suficiente para manter a população”.

Outro dos fatores de risco para a conservação da raça do burro mirandês é o aumento da consanguinidade. Esta deve-se, segundo o estudo, a fatores como a baixa taxa de reprodução, o reduzido número de machos, a desigual contribuição para a genética populacional e, ainda, a contribuição desigual dos diferentes criadores para a genética da população.

O pesquisador considerou que a solução passa, mais uma vez, pelo aumento do número de animais utilizados na reprodução. “Um número maior de machos deve ser introduzido na reprodução em busca de uma contribuição igual de sua genética para a raça, especialmente dos menos representados. O mesmo se aplica para as burras em idade reprodutiva”, sustentou Miguel Quaresma.

Para impedir a extinção, o investigador defendeu a introdução de políticas de estímulo para criadores e proprietários mais jovens e o apoio aos proprietários mais velhos. “Novas estratégias para o uso sustentável do burro mirandês devem ser fomentadas para combater a variação negativa em práticas agrícolas que deixaram os rebanhos tradicionais com nenhum incentivo para se reproduzir”, salientou.

A sustentabilidade da raça pode passar, na sua opinião, também pelo turismo, pela asinoterapia, a produção de leite de forma sustentável respeitando o bem-estar animal, ou ainda a utilização do burro mirandês como animal de estimação.

O burro-de-miranda é característico da região de Terra de Miranda, desde tempos remotos, essa varidade de burro adaptou-se às condições da região e já teve grande popularidade no passado.

Há mais de uma década que a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) trabalha no sentido de conservar o Burro de Miranda – única raça autóctone portuguesa desta espécie, dando a conhecer o seu caráter dócil, a cultura que lhe está associada. Em 08 de maio é comemorado o Dia Internacional do Burro, com diversas iniciativas que podem ser vistas em www.diadoburro.pt.

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