Declarações de Secretário de Estado causam indignação em Portugal

Na participação no Seminário voltada aos jovens realizado em São Paulo, Alexandre Mestre fala da presença pouco significativa dos jovens, aquém das suas expectativas.

 

Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada

David da Fonte, Justiniano Lameiras e o secretário Alexandre Mestre, em almoço no Santuário Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré em São Paulo. Foto: Eulália Moreno

Pela primeira vez no Brasil, Alexandre Miguel Mestre, secretario de Estado do Desporto e da Juventude, participou com José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Antonio Almeida Henriques, secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, e Feliciano Barreiras Duarte, secretário de Estado Adjunto dos Assuntos Parlamentares, do seminário “Luso-Brasilidades: Reflexões e Atualidade” que decorreu durante a tarde de sábado, dia 29 de Outubro, no salão nobre da Associação Portuguesa de Desportos, em São Paulo.
Supostas declarações feitas por Alexandre Mestre nessa mesma tarde sugerindo aos “jovens portugueses desempregados que saíssem da zona de conforto e fossem para além das nossas fronteiras” originaram, de imediato, descontentamento nas redes sociais onde duas páginas foram criadas com os mesmos nomes, “Alexandre Miguel Mestre, Demita-se Já”.
O Partido Comunista Português (PCP) através da deputada Rita Rato emitiu na noite de sábado um comunicado considerando graves essas declarações e solicitando o comparecimento do Ministro dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas à Comissão de Educação e Ciência para saber se o governo mantém a confiança política num secretário de Estado que convida os jovens com 25 anos ou menos, que representam 27% dos mais de 500 mil desempregados, a deixarem o país.
“Viajar é ótimo, conhecer novas paragens pode enriquecer-nos, mas escolher os caminhos da emigração forçados pela falta de condições no país onde nascemos é coisa bem diferente. É destino imposto(…) com governantes destes, Portugal não precisa de crises”, escreveu Alfredo Prado, diretor dos portais Portugal Digital e 21África Digital, atribuindo a Alexandre Mestre um “lugar garantido na galeria da hipocrisia e do disparate político graças a sua incontinência verbal”.
“Não afirmei nada disso, as minhas palavras foram deturpadas”, diz com tranquilidade o jurista durante entrevista concedida ao Jornal Mundo Lusíada no salão de festas do Santuário de N.Sra. de Fátima, no bairro do Sumaré, na capital paulista, onde o encontramos durante o almoço do Rancho Folclórico Pedro Homem de Mello. “Essa frase que me é atribuída foi retirada do contexto do que estive a dizer aos jovens presentes ao Seminário quando referi não ser próprio da juventude acomodar-se em zonas de conforto e que as nossas Comunidades oferecem muitas alternativas para os que queiram emigrar. Em recentes pesquisas que fizemos, o Brasil surge como o país preferido por esses jovens que apontam a Língua como um dos fatores principais para essa escolha. Não fiz nenhum apelo para que os nossos jovens deixem o seu país, muito pelo contrário, estamos procurando nesses contatos com luso-descendentes estruturar políticas de juventude para que haja um maior intercâmbio de experiências entre eles e os que vivem em Portugal”.
Nesse sentido, através do Portal da Juventude (http://www.juventude.gov.pt/) foi criado, no passado dia 2 de Novembro, o Livro Branco da Juventude, uma plataforma on-line que pretende recolher contributos dos jovens portugueses e luso-descendentes no sentido de elaborar um documento, a nível nacional, que defina a estratégia global e um plano de ação na área da Juventude, à semelhança dos Livros Brancos da Comissão Européia.      
“Reconheço um déficit de informação nas relações com os jovens. Precisamos estabelecer uma política de juventude, transversal, que contemple os jovens portugueses no mundo”. Surpreso quando lhe dissemos que a participação no Seminário do dia anterior tinha sido apenas facultada a jovens previamente inscritos desde que acompanhados por dirigentes associativos, Alexandre Mestre confessa que assim se explicava a presença pouco significativa, aquém das suas expectativas. “Por razões de logística, não seria aconselhável para o bom resultado do Seminário que ele tivesse mais do que 70/100 presentes mas constatei uma presença proporcional maior de dirigentes do que de jovens. As perguntas formuladas foram mais no sentido de nos interrogarem sobre o que pretendíamos fazer, nos sugerir, por exemplo, menos grupos folclóricos e mais Tunas Universitárias. Mas nós devolvemos as questões lançando um desafio para que sejam os jovens a dizer o que querem que se faça, estamos abertos a propostas e ao diálogo”.
Alexandre Mestre , antes de regressar a Portugal no dia 31 de Outubro, ainda compareceu naquele domingo ao Estádio do Pacaembu onde assistiu a vitória do Corinthians sobre o Avaí.
        
O Secretário

Com 37 anos, Alexandre Miguel Mestre, secretário de Estado do Desporto e Juventude, é especialista em Direito do Desporto e entre 2003/ 2005 foi adjunto na mesma Secretaria do antigo secretário Hermínio Loureiro. Formado em Direito pela Universidade de Lisboa, o jurista tem mestrado, pós graduação e doutoramento em conceituadas universidades européias como a Sorbonne, na França e Edge Hill Univertisty na Inglaterra. É também autor do livro “Direito e Jogos Olímpicos”, publicado em 2008 pela Editora Almedina.

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